Determinados anos de colheita permitem a percepção dos efeitos dos condicionalismos ambientais. Tal foi o caso de 2003, ano em que a seca e o calor se combinaram para obrigar a vinha a adaptações relativamente excepcionais ou a manifestar a sua incapacidade de adaptação. Muitos pensam que tal situação é excepcional, uma vez que podem ser encontradas algumas analogias com condições pontuais verificadas há mais de um século. A realidade é, sem dúvida, diferente: climatólogos e especialistas da biologia da vinha reconhecem, no decurso da última vintena de anos, os efeitos de uma alteração climática global, que provoca uma maior precocidade e, em numerosas regiões vitícolas, uma acentuação do calor registado no decurso do ciclo, com extremos mais marcados; estes fenómenos são acompanhados, de forma sem dúvida mais heterogénea, de uma acentuação das variações da disponibilidade em água, com secas estivais particularmente pronunciadas, enquadradas muitas vezes por precipitações violentas, nomeadamente no Outono, em regiões mediterrânicas. A experiência adquirida em 2003 é um investimento para certas colheitas futuras. Em termos de ecofisiologia da vinha, os efeitos maiores da seca e do calor são bem conhecidos; no entanto, a adaptação das escolhas vitícolas merece ser ainda melhor parametrizada, em particular a condução das vinhas e a irrigação qualitativa; da mesma forma, tal como para a percepção dos efeitos «terroirs», a percepção das consequências de tais ocorrências sobre a fisiologia, a bioquímica e a tradução fenotípica do genoma da uva são muito incompletas; observações análogas devem ser feitas relativamente à análise sensorial dos vinhos.
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