Os objectivos deste estudo são a avaliação da biodiversidade e caracterização da flora de leveduras fermentativas das vinhas dos Açores, e a construção de uma colecção de estirpes de Saccharomyces cerevisiae. Nas vindimas de 2009 colheram-se 88 amostras de uvas de castas tradicionais dos Açores (Arinto, Verdelho e Terrantez) e de castas híbridas em oito ilhas do arquipélago. A amostragem abrangeu 36 localizações, incluindo vinhas em zonas demarcadas e vinhas abandonadas. Verificaram-se 49 fermentações espontâneas. Cerca de 83% dos mostos obtidos a partir de castas tradicionais concluíram a fermentação, enquanto este valor foi de 47% e 33% para as amostras de castas híbridas nas vinhas em produção e vinhas abandonadas, respectivamente. Obtiveram-se 1470 isolados da fase final das fermentações. A identificação das espécies foi realizada pela análise de polimorfismos de fragmentos de restrição de sequências ITS. A diferenciação de estirpes de S. cerevisiae foi efectuada pela comparação de perfis polimórficos obtidos por amplificação de sequências inter-delta. Identificaram-se 660 isolados de espécies não-Saccharomyces e 810 isolados de S. cerevisiae, que foram classificados em 168 estirpes. Surpreendentemente, a percentagem de S. cerevisiae em fermentações de mostos obtidos em vinhas abandonadas (75%) foi superior aos valores obtidos em vinhas em produção (56%, tanto em castas tradicionais como em castas híbridas). Pelo contrário, o número de estirpes de S. cerrevisiae por fermentação nas amostras colhidas em vinhas abandonadas (3-11) foi inferior ao obtido em vinhas em produção (1-23). A proporção relativa de isolados pertencentes às espécies S. cerevisiae e não-Saccharomyces não dependeu da casta, mas do tipo de vinha. O maior número de estirpes de S. cerevisiae por fermentação foi obtido nas amostras colhidas na Ilha Graciosa. Estes resultados demonstram a elevada diversidade genética de S. cerevisiae nas vinhas dos Açores, mesmo em vinhas abandonadas e sem intervenção humana. Este trabalho foi financeiramente suportado pela DRCT, pelos programas POCI 2010 (FEDER/FCT, POCI/AGR/56102/2004), PTDC (AGR-ALI/103392/2008) e pelo Sétimo Programa-Quadro (FP7/2007-2013) da União Europeia sob o contrato nº 232454. Agradecemos o apoio dos Serviços de Desenvolvimento Agrário dos Açores e a diversos viticultores. (a) Centro de Investigação de Tecnologias Agrárias – Departamento de Ciências Agrárias, Universidade dos Açores. (b) Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), Universidade do Minho, Braga
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