Um novo estudo com as seis principais regiões vitícolas da Nova Zelândia, demonstrou que as diferenças de gosto e aroma dos vinhos de diferentes regiões geográficas podem depender mais do que se pensava anteriormente dos microrganismos.
No passado, os diferentes gostos e aromas do vinho e de outras culturas agrícolas, como o café, de diferentes origens, eram atribuídos a uma série de fatores ambientais, como o clima e o solo. Até muito recentemente a ideia de que os microrganismos desempenhavam um papel importante neste sentido não era valorizada.
Os trabalhos anteriores do Professor Mat Goddard e da Investigadora Sarah Knight da School of Biological Sciences (Escola de Ciências Biológicas) publicou no Jornal ISME Nature’s microbial ecology (Ecologia Microbiana da Natureza) que diferentes regiões da Nova Zelândia têm diferentes tipos das principais leveduras (Saccharomyces cerevisiae) para fermentar o mosto.
A última investigação publicada no Nature’s Scientific Reports estudou de que modo as leveduras geneticamente diferentes, de diferentes regiões, influenciam os compostos ligados ao aroma e gosto dos vinhos.
Com o mesmo mosto produziram lotes (em replicado) de vinho com espécies de leveduras geneticamente diferentes de seis áreas distintas da Nova Zelândia, seguidamente analisaram as concentrações de 39 compostos, conhecidos como provenientes do processo de fermentação das leveduras, e que influenciam o gosto e o aroma dos vinhos. Concluíram que 29 destes compostos variam em função da região de origem das leveduras.
Dr. Goddard afirmou: “Acreditamos que esta é a primeira evidência experimental direta que demonstra que os microrganismos auxiliam na obtenção de diferentes vinhos em distintas regiões ou terroir. A distinção regional do vinho desempenha um papel importante no seu valor, e há um grande interesse acerca do que influencia o terroir. Pensava-se que era apenas a influência do clima e dos solos, mas a nossa investigação mostra que a biologia também desempenha um papel essencial. “Estes resultados podem ser muito importantes; se esta premissa é verdade para o vinho, também poderá ser verdade para outras culturas agrícolas.”
Os investigadores acreditam que o estudo poderá ter implicações vastas na agricultura sustentável. Os resultados indicam a importância de caracterizar e compreender a biodiversidade e os serviços que podem proporcionar, e isto poderá ser alargado a outros importantes produtos agrícolas.
A investigação foi conduzida como parte do programa de investigação do vinho New Zealand Winegrowers and Plant & Food Research’s, com o objetivo de identificar os principais componentes de gestão da vinha e vinificação que influenciam o gosto e aroma dos vinhos, particularmente aqueles que contribuem para os gostos únicos encontrados nas castas Marlborough Sauvignon blanc.
“A Nova Zelândia tem a reputação de oferecer vinhos com um gosto único que são reconhecidos pelos consumidores a nível global”, afirmou Damian Martin, Dirigente do Grupo de Ciência Viticulture & Oenology at Plant & Food Research.
“Entender como o gosto é influenciado pela região de produção, fatores ambientais e técnicas de gestão da vinha irá facultar aos enólogos ferramentas e tecnologias para beneficiar o conhecimento e manter a posição da Nova Zelândia como um país produtor de referência, bem como apoiar a indústria na entrada de novos mercados emergentes.”
Knight, S. et al. Regional microbial signatures positively correlate with differential wine phenotypes: evidence for a microbial aspect to terroir. Sci. Rep. 5, 14233; doi: 10.1038/srep14233 (2015).
Sarah Knight and Matthew R Goddard; Quantifying separation and similarity in a Saccharomyces cerevisiae metapopulation; The ISME Journal (2015) 9, 361–370; doi:10.1038/ismej.2014.132